
Hélder Alves
As minhas memórias, enquanto pessoa nesta vida, iniciam-se, aproximadamente, aos meus dois, três anos de idade, altura em que vivia em Milheirós de Poiares numa casa rural com a minha mãe e os meus irmãos. Vivíamos, essencialmente, da agricultura como meio de subsistência. Lembro-me de ir para o campo, das brincadeiras de crianças, das festas, da desfolhada e da vindima, onde eu e os meus irmãos, assim como as outras crianças, ajudávamos num espírito de comunidade, num espírito de pertença, um sentimento de semente em terreno fértil.
Por volta dos meus 4 anos, a minha família mudou-se para a cidade de São João da Madeira, para um prédio situado no bairro da Mourisca onde vivi muitos anos. Inicialmente, a vida na cidade não foi muito diferente, pois tínhamos muitos campos e um rio perto da nova morada, o que fazia com que, apesar da diferença, o sentimento de liberdade ainda persistisse. Nesta altura, lembro-me dos sonhos lúcidos, de viajar fora do corpo, de andar à volta do prédio, de ver o que existia nos sítios onde eu não chegava. Não questionava nada, estas experiências eram-me naturais; aconteciam aleatoriamente e sem controlo. Eram tempos em que tinha ideias inatas, e apesar de serem infantis sentia que eram parte de mim.
Com o tempo, e à medida que fui crescendo, estes pensamentos inatos e os sonhos lúcidos foram desaparecendo.
Quanto mais o mundo externo entrava em mim, mais o meu mundo interno se desvanecia.
Quando entrei na escola, apesar se ser uma criança criativa, tive dificuldades em inserir-me no ensino da época. Devido às minhas origens humildes, tanto eu como os meus irmãos tínhamos que ajudar a minha mãe no sustento da casa. Apesar de me destacar nas turmas, nunca fui um aluno de notas exemplares. Sempre tive que dividir o meu tempo entre as tarefas da casa e as tarefas da escola, deixando estas muitas vezes para último plano.
Mesmo assim, consegui chegar até ao 10º ano, sem grandes dificuldades.
Desde a infância que fui grande interessado pela vida, sempre interroguei internamente o que me rodeava, aceitando as coisas apenas porque todos aceitavam sem as questionar, e sem sequer as entender. Mas tinha as minhas dúvidas sobre tudo. E, então, por volta dos 16 anos, juntamente com amigos, conheci o “jogo do copo”. Estas experiências instigaram-me a perseguir as minhas dúvidas e a procurar respostas sobre o que me rodeava. E sobre o que é, afinal, a vida. E sobre o que é viver.
Nesta altura começaram a despertar as questões sobre reencarnação, inferno, Deus, religião, de onde vimos, para onde vamos, a família.
Tentei procurar informação sobre estes temas em livros, nunca encontrando algo que satisfizesse completamente a minha curiosidade. E, então, com o prosseguimento da vida, esta busca adormeceu.
Sai da escola, iniciei a minha vida profissional. Entretanto fui para a tropa, a minha primeira experiência longe da família e fora de casa. Apesar de não ter acontecido nada de significativo, as minhas questões e revoltas internas ressurgiram. Pouco tempo depois, o meu primo Afonso pediu-me para o acompanhar um fim-de-semana a Lisboa a uma formação que ele queria fazer sobre “A arte de viver a vida em harmonia”. Eu também acabei por assistir a esta formação, o que se revelou uma mudança de vida para mim.



2010 - present
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